COMO É SER TÍMIDA?
Se você é uma
pessoa extrovertida, provavelmente não faz a mínima ideia de como funciona a
mente e o coração de um tímido. Se você é um tímido, talvez se identifique.
Bem, eu sou
tímida.
Eu sempre fui.
Desde que me
lembro, pelo menos.
Eu já deixei de
falar com muitas pessoas, ignorei muitas outras. Não por raiva, não por
aversão. Nada disso. Apenas não me sentia segura o bastante para tomar atitude
e tomar o controle de uma conversa. E se você for uma dessas pessoas, gostaria
de me desculpar. Não é voluntário.
O silêncio é
quase como um impulso. Meus olhos podem cair sobre alguém, posso fixar minha
atenção nos detalhes de sua conversa, na movimentação dos lábios e nas risadas.
Uma parte de mim, alguma parte, pensa profundamente em caminhar até o grupo e
puxar um papo, em falar. Mas assim que você perceber minha presença, isso
desaparece.
Transforma-se
em uma espécie de pânico.
Meus olhos se
depreendem e voltam para o solo. O chão parece ser a única coisa capaz de
sustentar meu olhar. Nesse momento, um turbilhão de pensamentos atinge minha
mente com a força de um míssil.
E se eu disser
algo errado?
E se ele me
achar estranha?Esquisita?
Eu apenas leio.
Como posso entrar em um grupo que fala sobre moda e cultura?
Eu tenho que
encarar enquanto falo? Mas encarar demais não é errado? E olhar de menos não
parece certo também...
Qual é o
momento certo de falar?
Como entrar sutilmente em uma conversa?
Eu poderia até
falar sobre aquela banda, mas isso é tão idiota...
Será que todos
estão olhando para mim agora?
O ar parece
falhar por um segundo. Eu recuo lentamente, buscando conforto em alguma parede.
Encostar, suspirar novamente, encarar o chão, um livro, minhas mãos.
E isso não
acontece apenas em conversas ou eventos sociais. Encontrar um grupo na escola?
Acho que isso não aconteceu no meu ensino médio. Em nenhuma das etapas
escolares na verdade.
Música.
Solidão. Livros. Cadernos.Canetas. Parede. Chão. Acho que esse é quase um resumo
completo de todos esses anos.
E como uma
garota tímida, com poucas palavras e olhares distantes, poucas pessoas tiveram
a chance de marcar minha vida. Poucas pessoas puderam fazer parte dela.
Não é fácil
quebrar a barreira da timidez. Não é fácil para mim trocar a primeira palavra,
o primeiro diálogo. Não é fácil sorrir normalmente, sem se importar com o som.
Não é fácil compartilhar meus momentos favoritos.
Se eu cheguei a
fazer alguma dessas coisas é porque confiei em você.
E eu te
agradeço por isso.
Esse é meu
jeito. Trocar as palavras faladas pelas escritas. Demorar anos para encontrar
um amigo. Manter o silêncio na maioria das situações. Encarar, sem conseguir
dizer uma palavra. Tentar manter uma conversa linear sem tropeçar nas frases.
Ter um milhão de pensamentos na cabeça, sem encontrar confiança suficiente para
encontrar a saída.
Viver a vida
com poucos diálogos.
E em algumas
fissuras da muralha dos meus lábios, encontrar pessoas que são capazes de
transformar essas brechas no meu mais novo sorriso.
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